sábado, 31 de maio de 2014

Pokémon vs Digimon

Eu agradeço muito a todos os meus leitores que colocaram sugestões de animes para assistir nos comentários desse post. O problema é que, como eu não tenho muito tempo disponível (vivo muito ocupado), provavelmente vou demorar um bocado para começar a assistir algum deles.



Dito isso, vou falar sobre dois animes universalmente conhecidos: Pokémon e Digimon. Se o seu filho(a) tem a idade entre 20-25 anos, provavelmente esses são os dois únicos animes que você já ouviu falar na sua vida. São dois animes de qualidades similares (igualmente bom ou ruim: depende de você), apesar de o Pokémon ter feito um pouco mais de sucesso.

Enquanto Digimon teve o seu sucesso passageiro, com quatro temporadas (Adventure, Adventure 02, Tamers e Frontier), Pokémon ainda faz sucesso com quinze temporadas, seis gerações e sem previsão de término conquistando cada vez mais público e ainda sendo atraente para vários fãs antigos. Por que esse fenômeno está acontecendo?

A resposta é óbvia: Pokémon é um anime baseado nos games portáteis da Nintendo e, enquanto os games venderem o anime continuará fazendo sucesso, enquanto Digimon utilizou da nomenclatura similar para tentar atrair os fãs da concorrente (apesar de alegarem ser baseado no Tamagochi, o que é besteira).

Como visto nos posts de Candy Crush e dos seriados da Netflix, tenho uma tendência em “pensar demais” em um determinado assunto para conseguir uma resposta mais coesa. E eu tenho uma resposta mais satisfatória: Pokémon é mais “female-friendly”.

Pra começar, as sinopses hiper-resumidas de cada um:

Pokémon é um anime protagonizado por Ash Ketchum, um treinador de Pokémons (monstros capazes de manipular elementos e que são domesticáveis e capturados via Pokébola) que sonha ser o melhor do mundo. Para isso, ele precisa ganhar a Liga Pokémon, que é um torneio onde os treinadores fazem suas rinhas e, para entrar na Liga, é preciso ter insígnia de cada ginásio existente no continente. A insígnia é como se fosse um comprovante de vitória diante do líder de tal ginásio. Pra isso, Ash precisa se preparar enquanto viaja de ginásio para ginásio.

Digimon é um anime onde sete humanos foram transportados para um mundo digital onde vivem vários monstros de natureza digital. Lá, eles ganham um Digimon (mesma lógica dos Pokémons mas não são capturáveis), um Digivice (que permite o Digimon evoluir) e uma insígnia para cada um, enquanto um Sensei fala para os humanos que eles são os Digiescolhidos predestinados a salvar o mundo digital da escuridão.

Ou seja: Pokémon é um “O Grande Dragão Branco: versão Rinha” enquanto Digimon é um “Matrix com sete Neos”. Duas entidades completamente diferentes, compartilhadas apenas pela nomenclatura similar, uso de monstros como animais de estimação e de um mundo habitado por esses monstros. Nem mesmo as evoluções os dois têm em comum.

Em Pokémon, cada monstro evoluía para uma versão maior e mais complexa de si mesmo. A versão superior tem os mesmos detalhes, mas são aprimorados ou colocados de forma mais evidente, tendo uma eficácia maior no combate como também no cotidiano, já que não pode regredir a sua forma anterior.


Três exemplos clássicos.

Uma evolução de Digimon era, basicamente, uma versão com mais armas de fogo do que a anterior. Diferentemente dos Pokémons, eles podem regredir a sua forma anterior. Portanto, as suas evoluções foram feitas exclusivamente para o combate. Cada Digimon era como uma projeção fálica de seu Digiescolhido.


Exemplo de evolução Digimon. Ou o cachorro de estimação do Rambo.

Sim, a pokébola pode ser utilizada e reduzir o Pokémon a um mero instrumento de batalha sendo ativada a mando do treinador, portanto não é bem isso que acontece no anime: Pokémons podem ser usados como meio de transporte aéreo e aquático pelos treinadores, além de iluminar caminhos e remover obstáculos. O grande ponto forte do anime (a relação Ash-Pikachu) só existe porque Pikachu não fica dentro da pokébola.

Agora, sobra as batalhas:

Em Pokémon, cada treinador pode selecionar, no máximo, seis Pokémons para a rinha e só pode ter um deles em campo de cada vez. O treinador é derrotado quando todos os seis Pokémons forem derrotados. A chave para ganhar uma batalha é saber especificamente qual é a fraqueza de cada elemento (ex: água ganha de fogo, que ganha de planta, que ganha de água) e ter uma mescla nos seis Pokémons, além de obviamente conhecer direito os seus Pokemons. O regulamento permite trocar de Pokémon a qualquer momento da luta, podendo usar técnicas como desgastar o adversário com um Pokémon e finalizar com outro.

Em Digimon, quando um vilão aparece, não existe uma regra específica para combate (já que não é um torneio regulamentado), podendo todos os humanos “partirem para cima” dele. Porém, não é isso que acontece. A maioria das lutas, eles escolhem quem vai lutar contra o vilão ou assume a responsabilidade de derrotar sozinho. Eles só apelam para o “trabalho em equipe” quando estão diante de um vilão poderoso demais para se enfrentar sozinho. O “trabalho de equipe” está tão localizado no Digiescolhido e no se Digimon que, em temporadas posteriores, existem fusões entre eles, individualizando ainda mais a batalha. Isso fica ainda mais evidente ao saber que cada Digiescolhido é uma metonímia ambulante de uma virtude humana separadamente (ex: coragem, esperança).

Resumindo: Pokémon, que tem regras feitas para ser uma luta individualizada acaba sendo uma luta de equipe, enquanto Digimon beneficiaria de um ambiente de equipe mas eles optam por uma luta individual.

O fator que faz Pokémon ter mais simpatia entre as mulheres é simplesmente porque além de não ser um anime exclusivamente sobre lutas (e quando tem pode ser usado como suporte), é também sobre o relacionamento e os cuidados a serem tomados com seu animal de estimação.

Eu estou ciente que “mulher = carinho / homem = batalha” é um estereótipo extremamente sexista e muito preconceituoso (temos muitos homens carinhosos e mulheres batalhadoras), porém essa noção é muito implantado pela mídia e pela sociedade, considerando que somos, desde criança, a distinguir que brinquedos de ação são para homens enquanto brinquedos afetivos são para mulheres.

O que Pokémon fez foi tentar dar um aspecto “carinhoso” e de suporte as batalhas, verificando os outros aspectos de ser um monstros de estimação, enquanto Digimon não se importa em ser um banho de testosterona. O resultado está aí.

Se, ainda hoje, temos algum fã fanático de Digimon vagando pela Internet, favor postar algum xingamento nos comentários. ;)

OBS: Eu estou ciente que o protagonista de Digimon Tamers (terceira temporada) passa todo o anime questionando o uso exclusivo dos Digimons para a batalha, porém o anime já estava em declínio a partir da terceira temporada, o questionamento era necessário para dar sobrevida ao anime. Ah, e ele passa tempo demais batalhando para quem usa esse discurso... ¬¬

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