terça-feira, 5 de novembro de 2013

Crítica: Saints Row IV

Disponível para: Xbox360 (testada), PS3, PC



A minha primeira crítica foi sobre um dos vários sobre-estimados games AAA (ou blockbuster) simplesmente por ser “para macho”. Nada mais justo do que a segunda crítica ser sobre um que foi ofuscado por seu concorrente famoso Grand Theft Auto por não ser “para macho” o suficiente, apesar de ainda ser bem avaliado pelos outros críticos.

Nunca fui muito fã da franquia Saints Row, principalmente por seu estilo Casseta e Planeta de fazer comédia, que é demasiadamente imatura. Bom saber que nesta quarta edição, as piadas imaturas foram substituídas pelas referências de ficção científicas. Não só as piadas, como praticamente a jogabilidade toda.

A história é bem simples: você é o(a) presidente(a) foi eleito presidente dos Estados Unidos (você pode escolher sexo, etnia, estatura e idade) e em menos de uma semana do de governo o planeta é atacado por alienígenas, que destroem o planeta e sequestram os mais “aptos” e colocam em uma simulação ao estilo Matrix. Como sair da simulação? Literalmente explodindo tudo que tiver na frente. Resumindo para os cinéfilos: Imagine Roland Emmerich ou Michael Bay dirigindo um reboot de Matrix.

A estratégia do jogo de atrair o público é similar ao do Skyrim: fazer uma péssima introdução e surpreender depois. O quão péssimo? É basicamente uma sátira a quase todos os jogos AAA de hoje: protagonista sem face ou emoção no meio de um país inespecífico do oriente médio com o objetivo de matar terroristas muçulmanos via quick time events com regeneração e sistema de cobertura. Ao jogar essa introdução, o jogo te dá superpoderes e assim te convence que “é mais divertido do que os outros”. Você sabe que está diante de um excelente jogo quando se tem uma referência a “Orgulho e Preconceito” e esta é a personagem Jane Austen.

O jogo está ciente de que não sabe de política (diferente de Call of Duty, que não sabe, mas se posa como entendedor) e pula direto para ação pouco depois de a Casa Branca aparecer, porque, afinal de contas, não teria motivos para crer que um líder de uma gangue seria eleito democraticamente presidente. Único momento de “política” está em seu conceito de “direita” (cura do câncer) e “esquerda” (erradicar fome), mas essa decisão é irrelevante.

Os aliens do jogo, nomeados de Zin, são basicamente humanoides acinzentados com colete metálico a prova de balas. O império Zin é liderado por Zinyak, que apesar de um porte físico avantajado, mostra-se um erudito com evidente sotaque britânico e um conhecimento da humanidade superior que todos da gangue juntos (é raro ver alguém citar Macbeth). Como um general de guerra, Zinyak é um ótimo escritor: sabe exatamente consertar o roteiro das histórias vividas nas simulações dos colegas de gangue, mas tem estratégias idiotas de guerra, que podem ser facilmente contra-atacadas.

Depois que você escapa da sua simulação, é hora de resgatar todos os membros da sua gangue sobreviventes de suas simulações e partir pra batalha final. Os membros, em sua maioria, são unidimensionais: Pierce é o “atrapalhado”, Johnny Gat é o “Chuck Norris”, Matt é o “geek” e Aisha é a “espiã certinha”, Cid é o “namoradeiro”. A grande estrela do jogo é Kinzie, a hacker que usa suas abilidades de hacker para resgatar você e todos da gangue (é raro ver mulher resgatando todo mundo, principalmente em videogames), extremamente vingativa e com fortes traumas do passado (não estou me referindo a relacionamento).

As fases de simulação dos companheiros ora são referências às versões anteriores de Saints Row ora são referências de filmes e jogos. Falando em referências: o jogo todo é uma carta de amor a década de 90 (Armageddon, Exterminador do futuro, Homens de preto, Alien, Double Dragon, Matrix, Show de Truman), porem não exclusiva a essa década (Apocalypse Now, Star wars, Star trek, Space invaders, Orgulho e Preconceito, A hora mais escura, Os incríveis, Mass Effect).

A jogabilidade é tão libertador quanto o jogo em si, afinal de contas é um jogo sobre quebra de realidade. A variedade dos poderes e de customização do personagem realmente faz com que este jogo seja mais livre que muitos que se vendem como livres. O problema é que o jogo foca mais naquele poder em que ele não funciona bem: a telecinese. Evidentemente as fases não foram feitas com os superpoderes em mente, sendo basicamente uma cópia de Saints Row III (e eu nem preciso jogar o III para perceber isso). As animações e os áudios parecem não funcionar muito bem por aqui, algumas vezes tendo evidente dissonância.

Se a sua definição de “jogo ruim” é aquele que tem vários “glitches” e “bugs” de programação, Saints Row IV seria um péssimo jogo. Os “bugs” são parte essenciais e divertidas do jogo, reforça o caráter da Matrix inserida e exigir esse jogo sem erros de programação é exigir um “Kingdom Hearts” sem os personagens da Disney ou um “Detona Ralph” sem a Vanellope.

O sistema de relacionamento do jogo (feito para ser uma paródia de Mass Effect) é o mais fiel ao mundo real já feito por um jogo AAA, sem essa história de “dar x flores” ou “dar y jóias” para conquistar a mulher, como se fosse um troféu. Quer transar? Pede! Se sim, transam; se não, continua a vida normal. Lembrete: tanto faz se é com sexo diferente ou não.

Não importa se as opções escolhidas: os diálogos são exatamente idênticos e isso mostra o quanto foi bem escrito e pensado o roteiro (é refrescante ver uma presidente mulher mandar a merda um colega insinuando que seu índice de polularidade iria subir se ela casasse). E essa é a moral da história: não importa se você é mulher, negrx, oriental, índix, gordx, magrx, homossexual, bi, trans; todo mundo é capaz de ser o herói ou heroína. E é por isso os outros críticos optaram pelo GTA V: afinal de contas, é sobre homens másculos resolvendo problemas de homens da maneira que um macho-alfa deveria resolver.

Um comentário: